FERRAMENTAS
É necessário remar!
Que a correnteza da fome
Não pode flagelar o povo!
... Para remar,
Precisa-se de remos.
– Mas cada um de nós não é um remo vivo?...
O que está faltando...
É o movimento sincronizado de todos nós!
E é necessário repartir o pão,
Porque se ele existe
É para o alimento de toda a gente.
Mas para repartir com perfeição,
Necessita-se de uma faca.
Por conseguinte:
Se a faca que parte o pão
Traduz-se em arma também,
Perfeitamente passível
De armar os movimentos...
Ninguém conseguirá jamais, portanto,
Repartir dignamente qualquer pão...
Sem uma arma na mão!
Pois as donas-de-casa têm facas;
Os ferramenteiros, também;
O irmão sapateiro, por igual
E os bons bóias-frias, tal e qual...
Então...
Todos podem repartir o pão!
E faz-se mister caminhar em conjunto:
Ninguém germina sozinho!
Mas todos que desejam florescer
Precisam desbravar caminhos.
Mexer com terras paradas
Também se faz necessário:
O imprescindível é plantar,
Colher,
Comer,
Dançar,
E se alegrar;
Mas para um plantio afável,
Há que se ter uma enxada,
Porém, a enxada isolada
Não produz fertilidades,
Quando há tiranos tratores,
Insanos, aterradores,
Atrapalhando as searas,
Subterrando os bons sonhos,
Os lírios, a aluvião...
Então...
Somente gente que se dê valor,
Em mutirão,
Com facas e enxadas reunidas,
Devagarinho
Fermentados pelo amor,
Com sincronia e compasso...
Deslocariam qualquer trator,
Ajustariam toda máquina,
Pra forjar pães e caminhos,
Fraternizando os espaços!
Mailton Rangel
(Publicado no livro Poemaduro)
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