Poemaduro

Poemaduro
O que nos espera nestas páginas é um formato eclético de poesia que não se ocupa meramente em perseguir estilos predefinidos ou regras acadêmicas. Ao contrário, considerando-se que não há como se escapar aqui de algum tipo de impacto, "esbarraremos" em um poeta livre e original, que conduz sua criação, a um só tempo, com a leve candura de um colibri, mas com o vigor e a autonomia de uma águia dos desertos. Enquanto colibri, Mailton Rangel extrai de sua mais intimista subjetividade, toda uma complexidade de conteúdo com o mínimo de movimentos ou barulho, mostrando, às vezes, com as imagens e os silêncios de poucas palavras, muito mais do que os olhares displicentes possam captar. "Eu busco um lirismo forte / Uma espada / Um devaneio / E uma tocha... / Já não me espanto mais / Com flor que desabrocha / Quero um desabrochar... de rocha!" Já a águia, revela-se pela apurada acuidade visual, capaz de enxergar seus objetivos até quando distantes e camuflados sob carapaças. Isso se associa à determinação de lançar-lhes suas garras e sacudi-los, até que dali se transpareça uma essencialidade esquecida ou petrificada. "Por mim / Não existiria uma só praça / Com nome de general / Porque praça / É lugar de criança / E general que tem nome / Ainda hoje me lembra... Matança!"

Princípio do Enigmanismo

Princípio do Enigmanismo
Óleo sobre tela de Mailton Rangel

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

BUCHAS DE CANHÃO.


HAVERIA BUCHAS DE CANHÃO NO “PRÊMIO BAIXADA”?



Que me atirem suas farpas ou detritos, aqueles que o desejarem – mas o incentivo à cultura na Baixada Fluminense ainda parece se configurar como uma atividade de mentira; porque, salvo raras e gloriosas exceções, isso ainda se dá, em grande escala, em proveito próprio de alguns pseudo-fomentadores, e sob a égide de muito oportunismo e politicagem; e assim, geralmente não se promove verdadeiramente ninguém sob os critérios da ética e da imparcialidade; e, ao que parece, também se encontram muito mais hienas do que Mecenas envolvidos nessa história.

Nossa região, como se vê – prolífera em valores com maiúsculo – também se encontra salpicada de gente cretina sob duas facções diferenciadas: Num primeiro e mais nefasto batalhão – o dos entes que se propõem a representar a sociedade organizada – encontram-se uns desprezíveis mercenários, que só promovem eventos para angariar “royalties” e patrocínios, ou, meramente, alguns bônus de notoriedade a mais, porque esta sempre lhes abre muitas portas, assim como costuma render dividendos sócio-econômicos até para os mais medíocres. Estão aí os “Big Brother’s” que não me deixam mentir; e, por outra vertente, encontram-se, com as devidas exceções, os próprios artistas desprovidos de ética e de companheirismo solidário, que se orientam por um antropofágico instinto de competição, achando que a sua promoção e o seu sucesso artístico dependerão sempre do aniquilamento da imagem daqueles conterrâneos que produzem arte similar à sua.

Disto decorre que, na Baixada, além da ‘boca miúda’ que se faz em relação a eventos culturais, o próprio artista não compra nem divulga a arte do seu vizinho.

É como diz o meu amigo Sylvio Neto, um dos louváveis baluartes da seriedade nesse âmbito: “as pessoas só olham para o próprio umbigo”; e, por consequência, aqueles que nos procuram, enquanto artistas – especialmente se ligados a certos organismos culturais da própria região, costumam sempre trazer camuflados nos alforjes de sua vilania uma segunda intenção de usar os atributos de outrem como escada, a fim de promover-se para impostar alguma grandeza social.

Eu, a propósito, gostaria muito de entender, como exemplo, algumas recentes e/ou reiteradas atitudes do Fórum Cultural da Baixada Fluminense, um dos notórios organismos que mexe, remexe e fomenta – segundo eles próprios – as manifestações culturais na nossa depreciada terrinha.

Tomei contato com algumas pessoas desse grupo há cerca de três anos, quando me convidaram para participar, na condição de poeta, de um de seus eventos e, daí pra cá, passei também a xeretar, de vez em quando, o ‘site’ no qual eles divulgam suas atividades.

Parece que, para eles – como instituidores do “Prêmio Cultural da Baixada Fluminense”, com edição anual – existe um “pool” de artistas participantes um pouco mais “ilustres” que os outros, os quais formariam um seleto grupo fechado de consignatários de uma atenção mais especial e etc., tendo até quem diga que certos agraciados pela premiação – sempre advindos de tal grupo – já conheceriam o resultado acerca de seus nomes, antes mesmo de o evento acontecer.

Obviamente, não sou eu que faço tais afirmações, e nisso, levantar tais suspeitas poderia até parecer leviano, caso eu também não tivesse os meus próprios motivos de desconfiança. Portanto, tudo indica que tal verdade existe, embora eu apenas não saiba até onde se espraia a sua espuma contaminada.

E um outro motivo que me deixa de pé atrás com o “Fórum” se resume no fato de que, a cada evento organizado por eles, eu sempre me deparo com editais desprovidos de clareza e objetividade, onde muitos critérios deixam de ser esclarecidos e o próprio interessado é quem deve promover a si próprio, rasgando-se loas e até “inventando” atributos pessoais próprios, se assim quiser fazer, a fim de habilitar-se à premiação oferecida.

Esses editais, depois que tomei contato com o “Fórum”, chegam-me sempre através de e-mails genéricos, mas, considerando-se minha natural rejeição a concursos – por não demonstrar interesse pela coisa – vejo-me, “a posteriori”, “re-convidado” com ênfase maior, sendo que, então, já de forma mais pessoal (por telefone). Porém, invariavelmente, isso só se dá no último momento das inscrições. E aí, se empurrado pelas armadilhas do ego eu caio na criancice de aceitar, como fiz, no último dia do Prêmio-2009, sob a modalidade “cidadania”, passo imediatamente a ser ignorado, sendo que, como agravante, os agentes locais indicados para receber o nosso calhamaço de material, especialmente a Casa da Cultura de Belford Roxo, sempre sob a égide do “não sei de nada”, sequer tem um recibo ou número de protocolo para oferecer, o que se configura como mais um substancial objeto de suspeição.

Portanto, para os artistas menores como eu, pouco importantes, talvez, para o Fórum Cultural e respectivo Prêmio Baixada, não há como saber – sequer – se aquele nosso material foi recebido por quem de direito, ou mesmo se a nossa inscrição foi efetivamente feita, porque ali, ao que tudo indica, depois que se “laça” e empurra o boi para o rio, ninguém lhe revela que ele se destinava a ser – meramente – a necessária comidinha das piranhas, para que os espécimes preferidos pelos “feitores”, dentre a manada, possam atravessar a correnteza com segurança. Faz-se, portanto, depois que nosso nome se vê agenciado para posteriores efeitos estatísticos, um silêncio sepulcral , tanto nas mídias quanto nas línguas profícuas dos agenciadores do contingente artístico.

Isto, a meu ver, chama-se, no mínimo, desorganização, considerando-se que inscrição pressupõe, em qualquer âmbito da atividade humana, um número de recibo, uma resposta de efetivação ou um – atípico que seja – protocolo de entrega do material exigido pelos organizadores.

Porquanto, não há como não se inferir, tristemente, que o principal objetivo dos enfáticos convites de última hora se baseia na mera intenção de fazer número para uma meta de inscrições que não fora alcançada até o último minuto.

Pois, “bucha de canhão”, portanto, é outro dos jocosos nomes populares que se dá àqueles que entram ou são ordenhados – feito gado – apenas para fazer número e oferecer respaldo às intenções quantitativas de um evento.

E aqui vai mais uma frustrante e inconformada decepção – não só minha, mas, certamente, de um vasto segmento artístico da Baixada Fluminense: a pomposa relação dos agraciados nas diversas modalidades do Prêmio Baixada–2008 (ano passado) se encontra – desde a imediata posterioridade do fato – disponível e bem apregoada no ‘site’ do “Fórum”, mas a outra lista, que se refere à posterior e última edição de 2009 (VIII), ocorrida no dia 27/08/2009, no Município de Seropédica, estranhamente, jamais foi disponibilizada. Por quê?... Teriam os ilustres dirigentes do Fórum Cultural da Baixada Fluminense e organizadores do “Prêmio Baixada”, algo de ridículo, de estranho ou, no mínimo, de inadequado a confessar??? Por que essa capciosa lista, se é que existe, não foi para o ‘site’, juntamente com as “fotos do evento”, que, devida e cautelosamente selecionadas para divulgação, também só vieram tardiamente a público no mês de novembro?

Em tese, eu também me inscrevi, como já disse; mas, em virtude de um arrependimento eficaz e temporâneo, não estava lá! Entretanto, disseram-me que houve, no dia da malfadada entrega, uma tal insatisfação dentre alguns presentes que quase os levou as vias de fato. Tudo, principalmente, por conta de um inconformismo diante dos nomes escolhidos para a premiação. Tal inconformismo, diga-se de passagem, parece que já vem desde o ano de 2007, quando a modalidade “literatura” foi conferida a um “poeta” de São João de Meriti que, há décadas (descobriu-se há pouco) vinha plagiando, publicando e se apropriando de textos alheios. O Fórum, à época, talvez ainda não tivesse provas das falcatruas do tal premiado, mas as evidências de sua conduta já saltavam aos olhos até para o mais inexperiente amante ou pesquisador de poesia, porque ninguém escreve, em ritmo de continuidade, ora um texto medíocre e sulapado de impropriedades lingüísticas e gramaticais, e ora outro, absolutamente técnico, polido e apreciável.

No mundo da poesia – embora cada qual tenha o seu valor peculiar – não há homogeneidade tão incoerente: ou se é libélula ou se é rinoceronte, sendo que um plagiador, por sua vez – um estranho elemento que nem é poeta – não seria nenhum dos dois.

Por conseqüência, embora as sansões previstas para o plágio se concentrem na esfera Cível, um plagiador, transmudando-se para o âmbito da moralidade, não passa de um ladrão como outro qualquer, porque se apropria, igualmente, de um bem alheio. Então, premiá-lo, longe de significar estímulo e promoção cultural, nada mais é que um imperdoável desrespeito para com os verdadeiros criadores; e mesmo quando a sua premiação se dá sob o pálio da boa fé e do desconhecimento – o que parece ter sido o caso – sempre se torna premente, a bem da lisura e da ética, o devido ato de cassação do prêmio, logo que tal impropriedade se prove ou evidencie, coisa que, paradoxalmente e ao que parece, também nunca foi cogitada pelo Fórum Cultural da Baixada Fluminense.

E frise-se aqui, como corolário da aludida suspeita de um grupamento fechado dos agraciados pelo Prêmio, que o plagiador em questão, segundo dizem, sempre foi pessoa de íntimo relacionamento com alguns dos mais eminentes e poderosos mentores do “Fórum” e do “prêmio”.

Eu, como já disse, não sei a exata extensão da verdade, mas que ela existe, existe! Não fosse assim, o Fórum não esconderia a lista dos nobres agraciados pelo seu último “grande prêmio”.

Não me proponho aqui, meramente a denegrir organismos nem a injustiçar ninguém, mas, até que alguém me prove o contrário, digo que algo de mau-cheiroso parece ocorrer no principado do “Prêmio-Baixada”, bem como enfatizo, que a arte – mesmo não sendo comida – também é um produto de primeira necessidade, porque se imbui do teor e da prerrogativa de lapidar a alma, o caráter e a essencialidade dos homens; e o artista, por sua vez, não pode ser tratado como um número de complementação das metas dos organizadores de eventos, sendo que um prêmio, como o próprio nome o sugere, tem que ser conferido a quem o merece, e não aos meros parceiros de “buraco” de quem quer que seja, ou àqueles que apenas compactuam com a mesma política deste ou daquele poderoso cacique.

Eu, que já amarguei a calhorda incidência de um plágio sobre minha criação seguida de uma despótica e injusta decisão judicial, se ora repudio, tanto os ladrões da imaterialidade quanto seus protetores, que se movem pela conivência ou pela omissão, é porque, de certa maneira, eu também vivo para a arte, porque ela é um dos meus tantos ideais, mas, felizmente, nessa macabra dança das cadeiras que é o mundo artístico, eu não vivo dela. Assim, deixo ao alvedrio dos ilustres senhores do “conselho”, caso minhas modestas observações sejam capazes de ferir sua duvidosa sensibilidade, que me esqueçam, se quiserem fazê-lo, mas, por favor: que respeitem um pouco mais as tantas e tantas admiráveis expressões fidedignas da produção e da promoção cultural da nossa terra.

Mailton Rangel

Poeta da Baixada Fluminense

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Homogênese

Em 29/11/2010, dentre 426 poemas incritos, este angariou o prêmio de 2º colocado no "IX Concurso de Poesia da Cidade de Duque de Caxias - RJ.".




HOMOGÊNESE


Abram alas, ó gente minha,

Que a morte exige passagem;

E almeja pôr na bagagem

Este poeta mais uma andorinha,

Dois bispos,

Três onças pretas,

Quatro ladrões,

Cinco atletas;

Seis crias recém-paridas,

Sete peixes,

Quatorze magistrados,

Vinte dois idealistas,

Cento e setenta e um empresários,

Oitenta senadores de república,

Trezentos e quarenta e nove negrinhos sem pastoreio...

E uma vaca sagrada de “Krishna”.


Há de juntá-los em um só balaio,

Onde, em razão do espremido,

Não há olhar de soslaio,

Não há mugido arrogante,

Tampouco, as pompas altivas,

Nem divas,

Nem raparigas,

Sequer, senhor ou lacaio;

E em despojo, n’ante-sala,

Virá, da mistura, um cheiro

De cão perdigueiro e barro,

Com o pó-de-broca e escarro,

De alcatras virando adubo....


E pr’alguns que se escapolem,

Julgando-se ora seguros...

Assim como quem não quer nada,

Dentre as vísceras pastosas,

Pavorosa que só ela...

Ei-la, que surge equipada,

Ardilosa,

Cavernosa,

Grotesca

E dissimulada;

Porque a danada é ferenha,

E se é ferrenha...quer tudo!

E com o seu tubo estreito e forte

E afunilado...

E sem graça...

Que aspira recrudescente,

Sem cotejar cor ou raça,

Esganada, ela devora

Qualquer fauna que se aflora,

E a flora que mal se arvora...

Sendo que, depois do abraço,

Branco ou preto viram cinza,

Qualquer sangue irriga um pasto,

Todo orgulho ao pó retorna!


No entanto, passaria,

Sem fobia e com vantagem,

Quem fez as dietas certas

Das gorduras do caráter,

Pois o filtro afunilado...

– Vejam só, que amor-talhado!

Só permite que almas finas

Transpassem pr’um melhor lado.


Abram alas, minha gente:

Eis que a morte se aproxima;

Minha ânima me anima,

Mas a voz soa cansada;

E se ao fim da vã jornada,

Sem bússola,

Sem candeeiro,

Aos suspiros derradeiros,

Dou-me em seiva aos bons canteiros...

– Eis-me trigo enriquecido,

– Eis-me centeio macerado;

– Eis-me essencializado,

– Eis-me, em verso, terminado.



(Mailton Rangel)

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