Poemaduro

Poemaduro
O que nos espera nestas páginas é um formato eclético de poesia que não se ocupa meramente em perseguir estilos predefinidos ou regras acadêmicas. Ao contrário, considerando-se que não há como se escapar aqui de algum tipo de impacto, "esbarraremos" em um poeta livre e original, que conduz sua criação, a um só tempo, com a leve candura de um colibri, mas com o vigor e a autonomia de uma águia dos desertos. Enquanto colibri, Mailton Rangel extrai de sua mais intimista subjetividade, toda uma complexidade de conteúdo com o mínimo de movimentos ou barulho, mostrando, às vezes, com as imagens e os silêncios de poucas palavras, muito mais do que os olhares displicentes possam captar. "Eu busco um lirismo forte / Uma espada / Um devaneio / E uma tocha... / Já não me espanto mais / Com flor que desabrocha / Quero um desabrochar... de rocha!" Já a águia, revela-se pela apurada acuidade visual, capaz de enxergar seus objetivos até quando distantes e camuflados sob carapaças. Isso se associa à determinação de lançar-lhes suas garras e sacudi-los, até que dali se transpareça uma essencialidade esquecida ou petrificada. "Por mim / Não existiria uma só praça / Com nome de general / Porque praça / É lugar de criança / E general que tem nome / Ainda hoje me lembra... Matança!"

Princípio do Enigmanismo

Princípio do Enigmanismo
Óleo sobre tela de Mailton Rangel

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Milagres

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MILAGRES


Não sei se existem milagres, na exata forma em que o senso comum os entende, ao molde de uma taça com água que se pudesse transformar em vinho, ou de um cego que – mediante a instantaneidade do toque de uma varinha mágica acionada por uma divindade qualquer, passasse a enxergar. Porém... uma coisa admirável eu extraio das minhas concatenações: todo ser humano tem, dentro de si, inúmeras alavancas da índole e dos sentimentos, que, se devidamente acionadas, podem suscitar prodígios inimagináveis.

A fé, por exemplo, pode nem mover literalmente um acidente geográfico composto pela sedimentação de milhões de toneladas de rochas e outros elementos da natureza, mas... sem dúvida, em qualquer época, sempre se percebeu que – pela energia inexplicável que emana da sua aplicação – pelo menos quantidades enormes do entulho que alimenta as amarguras humanas foram desintegradas ou diminuídas.

Outra verdade inegável é que as pessoas que compreendem a força transformadora do amor, da ética e da generosidade, e que, por essa compreensão, procuram situar-se em uma vivência alicerçada em tais sentimentos, geralmente adquirem condições de conquistar o sucesso, a alegria e a auto-realização com muito mais facilidade do que aqueles que se pautam pela truculência, egoísmo, empáfia ou auto-suficiência.

Diante disso, se é que existem os milagres, vê-se que a vida jamais deixou de representar o mais verdadeiro e substancial de todos eles, mas, para o homem – um animal gregário por excelência, e cuja dignidade existencial depende precipuamente de um uso adequado do atributo da racionalidade, e isso também envolve a fé – esse milagre primordial não se fermenta nem se otimiza por obra do acaso ou de elementos mágicos de qualquer espécie, e sim, pela nossa forma de interação com o meio ao qual pertencemos, pela coerência e até pelo altruísmo do nosso posicionamento diante da natureza e dos nossos semelhantes.

Nós, nesse contexto, “colhemos aquilo que plantamos!”. Tal jargão pode ser um dos mais arcaicos, mas a sua validade, desde que também vista pelo ângulo adequado, parece perene e incontestável, pois, quem se propõe a servir de exemplo e milagre para outrem, na medida de suas possibilidades e pela coerência de suas atitudes, certamente há de encontrar ou receber tudo que lhe seja necessário para sentir-se bem e harmonizado; já aqueles que, por mera indolência, não plantarem coisa alguma, também nada colherão, e outros, ainda, que plantarem só as ervas daninhas da iniquidade ou da indiferença, por mais riquezas materiais, saúde, beleza etecetera, que possam vir a possuir ou acumular, dificilmente terão, sequer, o conforto e a singela alegria de acreditar em milagres ou até mesmo de identificá-los, se eles porventura existirem.

Mailton Rangel.

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