Poemaduro

Poemaduro
O que nos espera nestas páginas é um formato eclético de poesia que não se ocupa meramente em perseguir estilos predefinidos ou regras acadêmicas. Ao contrário, considerando-se que não há como se escapar aqui de algum tipo de impacto, "esbarraremos" em um poeta livre e original, que conduz sua criação, a um só tempo, com a leve candura de um colibri, mas com o vigor e a autonomia de uma águia dos desertos. Enquanto colibri, Mailton Rangel extrai de sua mais intimista subjetividade, toda uma complexidade de conteúdo com o mínimo de movimentos ou barulho, mostrando, às vezes, com as imagens e os silêncios de poucas palavras, muito mais do que os olhares displicentes possam captar. "Eu busco um lirismo forte / Uma espada / Um devaneio / E uma tocha... / Já não me espanto mais / Com flor que desabrocha / Quero um desabrochar... de rocha!" Já a águia, revela-se pela apurada acuidade visual, capaz de enxergar seus objetivos até quando distantes e camuflados sob carapaças. Isso se associa à determinação de lançar-lhes suas garras e sacudi-los, até que dali se transpareça uma essencialidade esquecida ou petrificada. "Por mim / Não existiria uma só praça / Com nome de general / Porque praça / É lugar de criança / E general que tem nome / Ainda hoje me lembra... Matança!"

Princípio do Enigmanismo

Princípio do Enigmanismo
Óleo sobre tela de Mailton Rangel

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

AD ETERNUM

AD ETERNUM


Numa enseada imprecisa da costa africana, quatro negrinhos com a alma imersa na mais desoladora desesperança, refletiam em seus olhos marejados de lágrimas, toda a frigidez verde e ilusória de uma vastidão vazia.
Ao longe, o imponente galeão português já se embrumava, minimizando suas velas tênues num lento e angustiante mergulho no horizonte do mar sem fim.
O mais velho dos meninos, onze anos de idade, como se orquestrasse os sôfregos espasmos de seu ingênuo pranto, balbuciava uma espécie de mantra ou súplica semi desconexa:
... ... Papai...
... ... Papai...
Nisso, o negro adulto que deles se acercava – seu único tio da linha paterna – acabando de conferir e camuflar, num surrado alforje de couro de gazela, as trinta moedinhas de prata que o comandante branco lhe entregara, esboça um sorrisinho cheio de ironia e pronuncia: – “Ora, ora... parem com esse sofrimento tolo, sobrinhos; eu já não lhes disse que isso é só uma viagem de “negrócio”?...

.

Um comentário:

  1. Descrição tão bem feita que deu pra sentir a ânsia do pobre negrinho... me encanta tua escrita, amigo querido.

    Mais um texto forte. Bom de ler.

    Maravilha te seguir. Beijo grande.

    ResponderExcluir