Poemaduro

Poemaduro
O que nos espera nestas páginas é um formato eclético de poesia que não se ocupa meramente em perseguir estilos predefinidos ou regras acadêmicas. Ao contrário, considerando-se que não há como se escapar aqui de algum tipo de impacto, "esbarraremos" em um poeta livre e original, que conduz sua criação, a um só tempo, com a leve candura de um colibri, mas com o vigor e a autonomia de uma águia dos desertos. Enquanto colibri, Mailton Rangel extrai de sua mais intimista subjetividade, toda uma complexidade de conteúdo com o mínimo de movimentos ou barulho, mostrando, às vezes, com as imagens e os silêncios de poucas palavras, muito mais do que os olhares displicentes possam captar. "Eu busco um lirismo forte / Uma espada / Um devaneio / E uma tocha... / Já não me espanto mais / Com flor que desabrocha / Quero um desabrochar... de rocha!" Já a águia, revela-se pela apurada acuidade visual, capaz de enxergar seus objetivos até quando distantes e camuflados sob carapaças. Isso se associa à determinação de lançar-lhes suas garras e sacudi-los, até que dali se transpareça uma essencialidade esquecida ou petrificada. "Por mim / Não existiria uma só praça / Com nome de general / Porque praça / É lugar de criança / E general que tem nome / Ainda hoje me lembra... Matança!"

Princípio do Enigmanismo

Princípio do Enigmanismo
Óleo sobre tela de Mailton Rangel

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

UNICUS


UNICUS

(Devaneio lírico de um Serventuário de Justiça)



Inconstitucionalissimamente:

Tolhido vago em Justiça amorfa,

Se sem vislumbrar em líquida certeza

O ‘fumus boni iuris’ da límpida teoria,

Deixei de crer em qualquer ‘decisum’

Que emirja das togas cruas!


Inconstitucionalissimamente...

Arando a lavra com meu sal do rosto,

Rastejo só ante a emergente cria

Do vil embargador que desengrena o ranço

De um joio que desigualmente se rega

Sempre com o jorro da minha sangria.


Inconstitucionalissimamente,

De tão subalterno, vil e diferenciado,

Isento-me dos vícios e, assim, não trago!

Porém, qual fumaça que vidro algum embaçaria,

Igualitariamente jazo viciado...

Mas nunca que me dissipo... e sequer... fumo!


Inconstitucionalissimamente,

Se fluo no vernáculo, vem-me a punição

Das mãos sob os auspícios d’altiva treva,

E assim, serei por todo sempre reles vassalo;

Destarte, o que me cabe é feno e trabalho,

Se – feito mau cavalo – eis que eu mal rumino!


Inconstitucionalissimamente,

Se o verbo tergiversa eu me desconstituo,

E à pena da juizite, judico sem ar,

Se o códex gelado é desinterpretado,

Transmudo em peixe arisco ao seco largado,

Ou frijo à hipocrisia, sem chance de nadar.


Inconstitucionalissimamente,

Esfalfo-me em sinais para o olhar errôneo,

Qual bucha de balão que já se apaga usada,

E assim, sem brilho ou verniz, eu me desfaço,

E às penas, só assumo...

E somente sumo!



(Mailton Rangel).

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