UNICUS
(Devaneio lírico de um Serventuário de Justiça)
Inconstitucionalissimamente:
Tolhido vago em Justiça amorfa,
Se sem vislumbrar em líquida certeza
O ‘fumus boni iuris’ da límpida teoria,
Deixei de crer em qualquer ‘decisum’
Que emirja das togas cruas!
Inconstitucionalissimamente...
Arando a lavra com meu sal do rosto,
Rastejo só ante a emergente cria
Do vil embargador que desengrena o ranço
De um joio que desigualmente se rega
Sempre com o jorro da minha sangria.
Inconstitucionalissimamente,
De tão subalterno, vil e diferenciado,
Isento-me dos vícios e, assim, não trago!
Porém, qual fumaça que vidro algum embaçaria,
Igualitariamente jazo viciado...
Mas nunca que me dissipo... e sequer... fumo!
Inconstitucionalissimamente,
Se fluo no vernáculo, vem-me a punição
Das mãos sob os auspícios d’altiva treva,
E assim, serei por todo sempre reles vassalo;
Destarte, o que me cabe é feno e trabalho,
Se – feito mau cavalo – eis que eu mal rumino!
Inconstitucionalissimamente,
Se o verbo tergiversa eu me desconstituo,
E à pena da juizite, judico sem ar,
Se o códex gelado é desinterpretado,
Transmudo em peixe arisco ao seco largado,
Ou frijo à hipocrisia, sem chance de nadar.
Inconstitucionalissimamente,
Esfalfo-me em sinais para o olhar errôneo,
Qual bucha de balão que já se apaga usada,
E assim, sem brilho ou verniz, eu me desfaço,
E às penas, só assumo...
E somente sumo!
(Mailton Rangel).
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