Poemaduro

Poemaduro
O que nos espera nestas páginas é um formato eclético de poesia que não se ocupa meramente em perseguir estilos predefinidos ou regras acadêmicas. Ao contrário, considerando-se que não há como se escapar aqui de algum tipo de impacto, "esbarraremos" em um poeta livre e original, que conduz sua criação, a um só tempo, com a leve candura de um colibri, mas com o vigor e a autonomia de uma águia dos desertos. Enquanto colibri, Mailton Rangel extrai de sua mais intimista subjetividade, toda uma complexidade de conteúdo com o mínimo de movimentos ou barulho, mostrando, às vezes, com as imagens e os silêncios de poucas palavras, muito mais do que os olhares displicentes possam captar. "Eu busco um lirismo forte / Uma espada / Um devaneio / E uma tocha... / Já não me espanto mais / Com flor que desabrocha / Quero um desabrochar... de rocha!" Já a águia, revela-se pela apurada acuidade visual, capaz de enxergar seus objetivos até quando distantes e camuflados sob carapaças. Isso se associa à determinação de lançar-lhes suas garras e sacudi-los, até que dali se transpareça uma essencialidade esquecida ou petrificada. "Por mim / Não existiria uma só praça / Com nome de general / Porque praça / É lugar de criança / E general que tem nome / Ainda hoje me lembra... Matança!"

Princípio do Enigmanismo

Princípio do Enigmanismo
Óleo sobre tela de Mailton Rangel

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Assassinato na Via Show.

Sei muito bem que o artigo abaixo, o qual publiquei na época do fato, hoje já está meio obsoleto, porém, a vontade de continuar mostrando-o - como instrumento de alerta - ainda continua nova e forte em meu íntimo. Assim, que me perdoem os imediatistas que já o leram, mas minha falta de inspiração ou de conteúdo para coisas novas neste momento me incita a "estacioná-lo", também aqui, nesta minha humilde e recôndita tribuna de opinião.


Mailton Rangel




ASSASSINATO NA VIA SHOW



“Homem de 22 anos é assassinado nesta madrugada com um tiro na nuca, dentro do seu próprio carro, no estacionamento da Via Show”.

Esta notícia, divulgada na manhã de quinta-feira, 18/09/08, por um dos “vendidos” bonecos sensacionalistas da televisão brasileira, fez com que eu me detivesse um pouco – sem trocar imediatamente o canal – diante do seu ridículo e espalhafatoso programa.

Tal apresentador, cumprindo seu papel de inconteste puxa-saco das elites, limitou-se meramente a relatar o fato, na forma acima, suavizando-o com um breve comentário, mais ou menos assim: “Eu, heimmmmmm... a coisa tá preta, meu irmão... aquela área de São João de Meriti anda muito esquisita, he, he, he...”.

No mês passado (15/08), entretanto, quando Caio Silveira de Albuquerque, de 17 anos, foi brutalmente espancado por seguranças da aludida casa de espetáculos, assim como na maioria das atrocidades que lá incidem sobre jovens pobres e/ou pretos e desconhecidos... nenhum paspalho massificador da TV se pronunciou, nem para acusar e tampouco para manifestar – como se viu agora – a calhorda atitude de tentar desviar o foco das atenções, de cima daquela empresa notoriamente relacionada com atos de violência para o elástico âmbito regional de todo o município onde se deu o fato. Afinal, assassinatos, enquanto crimes mais graves do que agressão, não poderiam deixar de ser, pelo menos, tendenciosamente aludidos pelos “grandes” e “importantes” encantadores de debilóides da mídia, não é mesmo?

Pois, se – à época – um jornalzinho de papel mostrava a foto do menino Caio cheio de hematomas no rosto, estranhamente classificando-o na matéria como “suposta vítima” dos seguranças da Via Show, agora, com muito mais substancialidade – tendo-se em vista o comprometido passado da ‘casa’ – todos os segmentos de imprensa que pelo menos aludiram ao novo fato deveriam ter a digna atitude de levantar um questionamento: Seriam, os truculentos seguranças da Via Show, os “supostos” assassinos, nesse novo e triste episódio?...

Mas isto não aconteceu, porque a cara agora suscetível ao esbofeteamento é a da poderosa Via Show, e não a de um simples adolescente boêmio.

A essa questão, porquanto, não há como se oferecer resposta sem provas, mas... por via das dúvidas, recorro aqui ao meu papel de cidadão para lembrar a todos os pais da região metropolitana do Rio de Janeiro e adjacências, que, muito mais certa do que “supostamente”, nossos filhos continuam correndo um enorme risco de morte, ou de humilhação nos eventos e nas dependências da suspeita e famigerada boate conhecida como ‘Via Show’.


Mailton Rangel