AD ETERNUM
Numa enseada imprecisa da costa africana, quatro negrinhos com a alma imersa na mais desoladora desesperança, refletiam em seus olhos marejados de lágrimas, toda a frigidez verde e ilusória de uma vastidão vazia.
Ao longe, o imponente galeão português já se embrumava, minimizando suas velas tênues num lento e angustiante mergulho no horizonte do mar sem fim.
O mais velho dos meninos, onze anos de idade, como se orquestrasse os sôfregos espasmos de seu ingênuo pranto, balbuciava uma espécie de mantra ou súplica semi desconexa:
... ... Papai...
... ... Papai...
Nisso, o negro adulto que deles se acercava – seu único tio da linha paterna – acabando de conferir e camuflar, num surrado alforje de couro de gazela, as trinta moedinhas de prata que o comandante branco lhe entregara, esboça um sorrisinho cheio de ironia e pronuncia: – “Ora, ora... parem com esse sofrimento tolo, sobrinhos; eu já não lhes disse que isso é só uma viagem de “negrócio”?...
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